Eis que na virada tecnoindustrial
O amor estava na ribanceira.
Prevendo um cataclisma,
A CPU central do universo
Resolveu fazer um upgrade:
Uma chuva eletromagnética
Inundou o planeta com biochips!
Não se ouviu mais falar de pessoa
Que não estivesse apaixonada por algo,
Ou alguém.
Cães com gatos;
Gatos e ratos;
O menino e o mp3,
iPod ou mp4;
Pássaros e até patos,
Se tornaram amantes mútuos,
natos.
Nosso tecnoplaneta mudou,
Finalmente!

A menina beijou a tela da televisão,
O velho mordiscou o seu cachimbo,
E o pedreiro soluçou de alegria
Ao carregar alguns tijolos.
Admirável mundo!
Vasto mundo, disse o poeta,
Pois viu que a solução
Era o biochip,
não a rima.
Aquele que fazia versos
como os que choram
de desalento e de desencanto,
e que nas horas vagas procurava
um fugidio porquinho-da-Índia,
balançou a cabeça em aprovação.
Assim, içaram a bandeira,
sem esquecer o velho machado.
Mas e agora José de Alencar?
Você que tem nome,
que não zombou de ninguém,
teve seu lirismo baixado
e posto num pequeno biochip!
Basta! Ser ou não ser amado
já basta, juro por São Jorge.
Ou então voltaremos ao lirismo comedido,
igual ao daqueles parnasianos aguados!
Saudades todos temos da aurora de nossas vidas,
de nossa infância querida
que os anos não trazem mais.
Mas se o mundo não continuasse girando
O que seria do ovo e da galinha?
Tudo é um processo de metamorfose.
Tudo é tão simples quanto um peru de natal.
Então, vamos nos eletrizar...
Eis que a CPU central do universo
Revolucionou.



