terça-feira, 15 de julho de 2008

As mulheres e a bruxa



Um dia, o jovem rei Arthur foi surpreendido pelo monarca do reino vizinho enquanto caçava em um bosque de sua propriedade. O Rei vizinho poderia tê-lo matado no ato, pois tal era o castigo para quem violasse as leis da propriedade, contudo se comoveu ante a juventude e a simpatia de Arthur e lhe ofereceu a liberdade, desde que no prazo de um ano trouxesse a resposta a uma pergunta difícil.
A pergunta era: O que realmente as mulheres querem? Semelhante pergunta deixaria perplexo até o homem mais sábio. Ao jovem Arthur pareceu impossível respondê-la. Todavia, aquilo era melhor do que a morte, de modo que regressou a seu reino e começou interrogar as pessoas. A princesa, a rainha, as prostitutas, os monges, os sábios, o palhaço da côrte, em suma, todos, e ninguém soube dar uma resposta convincente. Porém, todos o aconselharam a consultar a velha bruxa, porque somente ela saberia a resposta. O preço seria alto, já que a velha bruxa era famosa em todo o reino pelo exorbitante preço cobrado pelos seus serviços. Chegou o último dia do ano e Arthur não teve mais remédio, a não ser recorrer à feiticeira. Ela aceitou dar-lhe uma resposta satisfatória, com uma condição: ela queria casar-se com Gawain, o cavaleiro mais nobre da Mesa Redonda e o amigo mais íntimo do Rei Arthur! O jovem Arthur a olhou horrorizado: era feíssima, tinha um só dente, desprendia um fedor que causava náuseas até a um cachorro, fazia ruídos obscenos, nunca havia conhecido uma criatura tão repugnante! Se acovardou diante daperspectiva de pedir ao seu melhor amigo para assumir essa carga terrível. Não obstante, ao inteirar-se do pacto proposto, Gawain afirmou que não era um sacrifício excessivo em troca da vida de seu melhor amigo e a preservação da Mesa Redonda. Anunciadas as bodas, a velha bruxa, com sua sabedoria infernal, disse: "O que realmente as mulheres querem é serem soberanas de suas próprias vidas"! Todos souberam no mesmo instante que a feiticeira havia dito uma grande verdade e que o jovem Rei Arthur estaria salvo. Assim foi: ao ouvir a resposta, o monarca vizinho devolveu-lhe a liberdade. Porém, que bodas tristes foram aquelas! Toda a côrte assistiu e ninguém se sentiu mais desgarrado, entre o alivio e a angústia, que o próprio Arthur. Gawain se mostrou cortês, gentil e respeitoso. A velha bruxa usou de seus piores hábitos, comeu sem usar talheres, emitiu ruídos e um mau cheiro espantoso. Chegou a noite de núpcias, quando Gawain, já preparado para ir para a cama, aguardava sua esposa. Mas ela apareceu como a mais linda e charmosa mulher que um homem poderia imaginar! Gawain ficou estupefato e lhe perguntou o que havia acontecido. A jovem lhe respondeu com um sorriso doce: como havia sido cortês, com a metade do tempo ela se apresentaria com aspecto horrível e a outra metade com aspecto de uma linda donzela. Então ela lhe perguntou: Qual ele preferiria para o dia e qual para a noite? Que pergunta cruel! Gawain se apressou em fazer cálculos: poderia ter uma jovem adorável durante o dia para exibir a seus amigos e à noite na privacidade de seu quarto uma bruxa espantosa, ou quem sabe ter de dia uma bruxa e uma jovem linda nos momentos íntimos de sua vida conjugal.

Vocês, o que teriam preferido? O que teriam escolhido? A escolha que fez Gawain está mais abaixo, porém, antes, tome sua decisão.


É muito importante que sejam sinceros com vocês
mesmos. Pensem...

O nobre Gawain respondeu que a deixaria escolher por si mesma. Ao ouvir a resposta de Gawain, ela anunciou que seria uma linda jovem de dia e de noite, porque ele a havia respeitado e permitido ser dona de sua vida.
Moral da história: Não importa se a mulher é bonita ou feia. No fundo, sempre é uma bruxa. Ela se transformará de acordo com a forma que você a tratar.

O caminho até uma mulher


É, somos complicadas, temos TPM, choramos e muitas vezes nem nós sabemos o porquê. Portanto, tentei resumir, em prosa, para vocês, rapazes, tentarem saber, um pouquinho, do nosso mundo...

Palavra de mulher.

Verdades e mentiras sobre orgasmo e ponto g

MENTIRA
- A mulher só atinge o orgasmo com um parceiro
- O ponto g é o responsável pelo orgasmo da mulher
- O orgasmo depende da mulher descobrir o seu ponto g
- A masturbação pode prejudicar a saúde da mulher
- Toda mulher atinge o orgasmo da mesma forma
- A mulher só tem prazer com a penetração

VERDADE
- A mulher atinge o orgasmo sozinha ou com o parceiro, se estimulada “corretamente”
- A cabeça é a principal responsável pelo orgasmo da mulher
- O orgasmo está ligado à mulher se conhecer e saber o que lhe dá prazer
- Masturbação é saudável, desde que a mulher não se machuque
- Cada mulher sente prazer de um jeito único
- A mulher pode atingir o orgasmo sem a penetração, ou seja, sem o estímulo direto vaginal

Não pense você que é fácil ser eu mesma. Não é fácil manter o salto, o brilho, a pele boa, quando nem eu sei o que se passa. Preciso de beijos longos, regados a palavras suaves. Por favor, reaja ao meu mau humor súbito com aquele jeito doce que me ganhou. Mulher vive num mundo próprio a cada dia, mas a viagem vale a pena se você ousar. Toda mulher é uma estrada cheia de curvas e cada uma é um mistério que merece ser desvendado. Não tente me entender por completo, apenas me aceite e me ame. Não me diga meus defeitos, não você que os conhece tanto! pois já me condeno o bastante e posso precisar de alento. Meu prazer tem 5 sentidos e passa pelo que ouço, sinto, sonho, vejo e sou. Meu sexo vem da cabeça, antes de ser sexual. Meu coração enxerga. Meus olhos escutam. Meu desejo pode acabar na cama mas não começa nela. Meu sexo não é meu princípio, muito menos meu meio, é apenas aonde vai dar o meu caminho.

BLARGH!
É maravilhoso ser mulher e poder se experimentar, usufruir de tantas particularidades e loucuras desse incrível universo feminino. Ser mulher é descobrir um novo traço de nós mesmas todos os dias. Não exija que o seu parceiro a saiba de cor, pois nem nós o sabemos! É esse mistério que nos torna tão atraentes, indefiníveis, até adoravelmente insuportáveis às vezes.... Blargh! se você recusa a sua feminilidade, pois você pode ser o que quiser sem deixar de ser você mesma! Blargh! aos que acham que o orgasmo está só na vagina, pois perdem a melhor parte. Blargh! às mulheres que usam o sexo no lugar do cérebro e não experimentam a fantástica viagem pelo seu universo afora. Blargh! aos homens que usam as mulheres como espurgo, objeto, descarga e Blargh!Blargh! às mulheres que se sujeitam a isso. Blargh! a quem não descobriu o próprio corpo e não sabe nem em si mesma o que lhe dá prazer. Médicos e livros jamais poderão fazer isso por você e um parceiro também não. Ser mulher é lindo. O primeiro passo para o orgasmo é saber disso e gostar de você.

Cafajestes, como identificá-los, livrar-se ou, até mesmo, “aproveitar-se” deles!



Levante a mão a mulher que nunca se deparou com um cafajeste.Todas, em algum momento da vida, já viveram essa experiência.

Isso porque eles estão por toda parte e com as mais diversas caras.

E podem fazer-lhe muito mal, ou muito bem, depende mais de você. Sabe por quê? Por que eles são eles mesmos, sempre. É você quem abre a porta – ou não.

Adorável cafajeste.
É verdade, sim, os cafajestes são quase que irresistivelmente atraentes. Tem uma lábia que nenhum bom moço tem e isso pode pegá-la desprevenida.

Você sabe como identificar um cafajeste?
É preciso saber, pois eles não trazem escrito na testa e você precisa estar preparada quando encontrar um! Parece que eles sentem o cheiro de mulher carente e vão aparecer no momento em que você estiver mais frágil, acredite nisso.

Parecerão o homem perfeito, pois essa é a principal arma de conquista deles – e você vai acreditar. Estão sempre de bom humor e raramente têm trabalho fixo, embora o trabalho não seja uma unanimidade entre eles.

A barba cerrada e o jeito de quem não se preocupa com nada viraram um estereótipo. Charmosos por natureza e com conversa boa, desde que você não vá fundo demais em algo, pois isso vai espantá-lo, já que fogem do envolvimento.

A sua família vai odiá-lo, mas, ainda assim, você vai defendê-lo com unhas e dentes(o que não quer dizer que todo homem que a sua família não gostar seja um, ok?).

São carismáticos e espontâneos e, na hora de mentir, podem até fazê-la chorar de remorso por ter duvidado dele, pois são excelentes atores.

Um cafajeste traz flores sempre que apronta alguma, só para tentar driblar você com mimos, afinal, ele sabe o seu ponto fraco.

Romance é com ele mesmo e isso a prende incrivelmente. É difícil se desvencilhar dele exatamente por isso, é um Don Juan e vai deixar você perdidamente apaixonada.

Um amante de primeira, um tremendo cafajeste. E o pior é que ainda pode ser lindo. Ai, meu Deus.

Por que eu?
É muito comum vermos mulheres dizerem: “Por que só atraio homem que não presta? “ Na verdade, elas já estão com a resposta: elas atraem.

E, na maioria das vezes, são mulheres incríveis, de ótima índole, porém frágeis emocionalmente.

E essa é a primeira característica que uma cafajeste “profissional” identifica: a fragilidade – e isso pode acontecer ao inverso também, entre homens incríveis e mulheres extremamente cafajestes, viu? Mulheres bem-sucedidas e lindas se vêem numa trama ardilosa da qual não conseguem se desvencilhar.

Mas, por quê? Meninas, é simples. Atraímos o que emanamos.

E, quando ficamos frágeis, a nossa sintonia está baixa demais para atrairmos algo bom.

E aí vêm as doenças, as neuras, a depressão e.... os cafajestes. Eles vibram nessa onda baixa. Tanto que você jamais vai ver um cafajeste com uma mulher segura e dona de si – a menos que ela é quem esteja se “aproveitando” da parte boa dele, espertinha.

E sabe por quê? Por que mulheres estáveis emocionalmente sabem identificá-lo na primeira cantada ou no primeiro deslize e logo caem fora, antes de se envolverem emocionalmente, já que são bem resolvidas para fazer isso.

Falei que um cafajeste não traz escrito na testa a sua índole, mas, quando abre a boca, só não vê quem não quer. São todos iguais na essência, ou na falta dela, é impressionante. E se você não estiver bem consigo mesma, vai cair nessa. Afinal, o que é que você anda atraindo para a sua vida?

Para onde irei?
Sinto muito, mas o nosso pai estava certo: boate não é lugar de procurar compromisso. Na praia, muito menos. Está no carnaval, no meio do bloco da Ivete? Convenhamos, o que você espera encontrar? Diversão? Ótimo, terá. Casamento? Ora, por favor!

Claro que existem belas histórias de amor de casais que se conheceram em lugares da night, mas você há de concordar comigo que balada e paquera andam juntas, balada e compromisso, não! Se você encontrou seu grande amor na praia, em pleno carnaval, pode parar de ler esta matéria, pois ela não lhe serve.

Ao menos, por enquanto e espero que nunca precise. Mas, em locais de festas, as pessoas só têm o compromisso de se divertirem, assim como você, que também está lá.

E não há nada de mal nisso! Pode coincidir de o seu príncipe estar dando sopa naquele exato lugar, naquele exato momento, mas há mais chances disso não acontecer.

Vai pra balada? Divirta-se e tire proveito dela. Quer alguém para namorar? Abra o olho diante do que vai encontrar, pois eles a-d-o-r-a-m balada, como você. E sabem disso. O perfume de um cafajeste é o melhor do mundo e tem um sorriso de matar.

Portanto, jamais use a balada como fuga para alguma frustração, pois ele tem um radar que vai localizar você. Use a balada como diversão e encare a paquera que surgir dela como uma deliciosa conseqüência.

Assim, você terá mais chances de saber se aquela incrível pessoa que você conheceu veio para ficar ou se deve permanecer apenas naquela noite de sábado. Às vezes, a gente estraga uma gostosa aventura esperando algo mais dela. Isso é errado.

Cada um dá o que tem e a gente fica querendo tirar das pessoas o que elas não têm para dar. Se liga. Nem tudo que reluz é ouro.

Aproveitar?
Sim, aproveitar. Cafajeste é para divertir você, pois eles são bons nisso. Não é para ser seu. E, se for, você vai se arrepender, pois ninguém muda um cafajeste de verdade. Os homens aprenderam isso há mais tempo que nós e nós os condenamos.

Eles já têm na cabeça “mulheres para casar e mulheres para se divertir” e a gente acha isso machista. Mas, não é. É que eles já selecionam o tipo de mulher que eles querem para cada objetivo. E você ainda não aprendeu e fica se babando para qualquer um que aparece? É como atirar pérolas aos porcos.

Viva a vida com as ferramentas que ela lhe oferece e crie as suas próprias.

Chega de transferir a responsabilidade pelo que deu errado na sua vida aos outros, pois você já cresceu – ou, pelo menos, deveria ter crescido. Se você achou que o sapo era um príncipe, problema seu.

Nem o sapo tem culpa disso. Aproveite das pessoas o que elas têm de bom e não o que elas não têm, senão vai sofrer mesmo. Ninguém é só ruim, assim como ninguém é só bom.

Os “sapos”, por exemplo, podem ser muito divertidos e ótimos amantes e os “príncipes” serão bons companheiros. Sem falar que todos nós temos um lado “sapo” de vez em quando.

O erro é querer se casar com um sapo ou querer que um príncipe faça coisas fora da sua natureza. Cada um é o que é. E você tem total autonomia para escolher a pessoa com quem vai conviver.

Autonomia e responsabilidade pela sua escolha. Ah, ele mentiu pra você? Salvo se você tomar uma titude na primeira vez, não tem desculpa.

Uma segunda mentira só vem depois que a primeira foi aceita. E se você aceitou, ninguém foi enganado aí, né?!

Blargh!!

Tem gente que adora ser vítima. Nas batalhas da vida, ser vítima é bem mais cômodo. Significa não lutar e ser protegida. Significa não errar, pois só os outros erram. É ter medo de tudo também e não experimentar o gosto da derrota, que, muitas vezes, é o ingrediente principal para vitórias futuras.

Blargh!! se você é uma dessas pessoas. Blargh!! se você é daquelas que ficam chorando pelos cantos dizendo que foi enganada. Vai dizer que acreditou naquelas desculpas esfarrapadas e na ausência prolongada dele?

Blargh!! se você tenta convencer o mundo que não sabia que ele era um cafajeste. É, mas na hora do bem bom.... quer enganar a quem? Ninguém engana ninguém.

A verdade é que a mulher sempre sabe quando o homem não é decente, só que, por medo de ficar só, por carência, por sexo, ou seja lá por quais motivos forem, prefere não enxergar.

E o mesmo vale para os homens, quando se envolvem com mulheres cafajestes também, já que estamos usando o termo para definir o estilo descompromissado de ser. Aí, quando a realidade se faz ser vista, buáááá!!!! – vai chorar no ombro do amigo, da mãe, de quem estiver por perto, como se fosse uma grande novidade o desfecho trágico do romance.

E você esperava o quê, depois de tudo? Quantas vezes você fechou os olhos e tapou os ouvidos, para não ter que admitir a verdade?

Blargh!! toda vez que você se cega, fingindo ser o que não é e fingindo não ver o que as pessoas são.

Um cafajeste assumido é muito mais digno que uma mulher que se faz capacho dele, como se desconhecesse a realidade.

Já falamos que cafajestes são gostosos por natureza, por que vivem para o prazer. Não tente transformá-lo num monge, porque ele não o será.

Se você quiser sexo e diversão, terá gratas surpresas. Pare de querer dos outros mais do que podem dar e culpá-los pelas suas expectativas.

Blargh!! se você insiste em não entender que é responsável pelo que faz com a sua vida. Não, ninguém engana definitivamente ninguém.

As pessoas se deixam ou não enganar, escondem-se ou não atrás dos próprios medos, aceitam ou não viver à mercê do outro.

E se você estiver com um desses cafajestes da vida, a menos que você esteja se divertindo com isso, sinto muito, quem é cafajeste mesmo é você.


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domingo, 13 de julho de 2008

Mãe Lua

Lua - Pedro Abrunhosa

Nunca gostei do Sol. A claridade do dia me parece invasiva demais, quente demais, óbvia demais. O Sol é tão quente, tão gigante, tão ardente, se faz tão necessário que não posso sequer olhar diretamente para ele. Mas a Lua sempre me aprisionou em sua beleza e posição astronômica. É fácil para uma gigantesca estrela de gás incandescente iluminar e aquecer um minúsculo planetinha frio, sem luz e dependente, e que além de tudo se acha o centro do Universo. Mas é difícil para um satélite natural viver em torno de um planeta tão fértil e tão inconsequente quanto a Terra. O Sol existe longe e indiferente, magnânimo e poderoso. Mas a Lua, não. A Lua fica lá, rodando em volta da Terra - modesta, pequena e prateada - acompanhando-a, observando seu curso, fazendo conjunto com as estrelas. Hora, se mostra cheia, inteira e bonita, iluminando toda a escuridão. Hora aparece de dia para competir com o brilho do sol. Hora, está encoberta pelas nuvens, brilhando ocasionalmente. Hora está só um pedaço, enchendo ou minguando. Hora some de perto, ficando obscura e silenciosa. Mas sempre, sempre está lá, pronta para ser contemplada. Pessoa alguma jamais conseguirá tocar o Sol, sequer chegar perto dele. Mas há muito alguém já visitou, já estudou, já pisou e fincou bandeira na Lua.














No que me diz respeito, a Lua sempre foi minha companheira. Mesmo quando não tenho tempo de olhar para o céu e admirá-la, sei que ela está lá. Embora eu a deixe, sei que ela nunca me deixará. Basta que eu olhe, e ela estará lá. Me esperando… Me observando.

Fico pensando o que a minha Mãe-Lua pensava antes de me ter. Com certeza, ela sonhou comigo. Me esperou. Me quis. Deixou que eu me instalasse dentro dela. E depois que eu vim para o mundo, decidiu me amar e me acolher. Com certeza também, não sou como ela pensou que eu seria quando eu ainda não existia. Talvez, nos sonhos dela, eu tivesse outros olhos. Outra cor de cabelo. Outro jeito de corpo. Outro temperamento. Outro cheiro, outra voz. Talvez, nos sonhos dela, eu nunca ficaria doente. Seria saudável e eterna. Talvez, nesses mesmos sonhos, eu fosse uma médica, ou uma advogada. Talvez ela quisesse que eu fosse mais calma, mais dócil, mais obediente, mais esforçada… Ou menos rebelde, menos crítica, menos sossegada, menos perdulária. Talvez ela sonhasse com uma filha que a amasse tanto, e de uma forma tão incondicional, que jamais a questionasse, jamais a desagradasse, jamais fizesse algo que pudesse desapontá-la, magoá-la ou entristecê-la, e que compreendesse todas as demonstrações de carinho que ela desse, mesmo quando não fossem explícitas. Nos sonhos da minha Mãe-Lua, talvez eu fosse uma Terra-Filha que nunca a abandonasse… Nunca a trocasse pela escola, pelos amigos, pelo namorado, pelos irmãos, pelo pai, pela avó. Minha Mãe-Lua, como toda a mãe, teve uma vontade secreta de me ter só pra ela, de me fazer do jeito dela.













Mas a minha Mãe-Lua me ama. Ela me ama, e não ao sonho que ela teve. Me ama tanto que aprendeu a me conhecer. Aprendeu os meus jeitos, minhas manias, minhas facilidades e dificuldades. Respeitou os meus sonhos, mesmo quando eles eram diferentes dos dela. Não foi fácil, eu imagino. Ela me fez. Era natural que quisesse que eu fosse como ela quis. Tanto que de vez em quando, ela esquece de me ver como sou, e quer que eu seja como ela quer. Mas eu sei que ela me ama.

Minha Mãe-Lua não é perfeita. Mesmo cheia, tem sombras que formam desenhos incompreensíveis em sua imensa claridade branca. Às vezes desaparece e me deixa só… Às vezes toma todo o meu céu. Mas, mesmo imperfeita e inconstante, minha Mãe-Lua é o brilho da minha vida.

Minha Mãe-Lua me influencia mesmo de dia. Altera minhas marés, regula meus meses, sugere meus regimes, aconselha minhas épocas de cortar o cabelo, rege meus signos, atiça meus romantismos, estimula minhas artes, ilumina minhas noites.

Minha Mãe-Lua está lá em cima. Mas o brilho dela se espelha em meus olhos, e faz morada dentro de mim. Não dependemos mutuamente… Mas nos amamos. E de alguma maneira, nos entendemos perfeitamente. Eu sei que fomos feitas uma para a outra.

sábado, 12 de julho de 2008

Bom e Gostoso


De manhãzinha, logo que você acorda… É bom tentar. É bom porque tira você da moleza da noite e dá aquela energia pra começar o dia com um sorriso daqueles. Pode ser um pouquinho antes de sair pro trabalho, no meio daquela correria… Meio apressadinho, talvez em cima da mesa do café da manhã ou encostado no sofá da sala. Aí também fica bom. Durante o trabalho, não é muito recomendável; mas se for na hora do almoço, depois de ter ido ao restaurante… É uma delícia! Em alguns dias, durante o expediente da tarde, também pode ser maravilhoso… Até mesmo no local de trabalho, se você der uma escapadinha pra uma sala vazia, um elevador parado ou mesmo no banheiro. Sempre com a porta fechada e aquele cuidado, claro, principalmente se o chefe for bravo e os colegas de trampo, invejosos. Ao chegar em casa… Também pode ser bom, antes, durante ou depois daquele banho. Agora, bom mesmo, gostoso, delicioso, é um pouco antes de dormir, depois do jantar. Devagarinho, com disposição… Aí não tem pra ninguém. É bom demais.

Tem gente que prefere e defende fazer sozinho. Tem quem faça a dois. E há mesmo quem faça a três, quatro ou mais. Normalmente, as pessoas têm ciúme e preferem fazer com um número de envolvidos reduzido ao máximo mesmo. Particularmente, não gosto de dividir o que é meu com ninguém mais. Mas não vamos condenar quem gosta… O fato é que todo mundo, de um jeito ou de outro, mais ou menos, querendo ou não, evitando ou não… Um dia, acaba fazendo. Tem quem prefira se envolver com um de confiança, conhecido, com quem tem um contato longo e duradouro, e é fiel a esse até o fim. Tem quem prove qualquer um, sem distinção. E tem quem seja um pouco seletivo, e experimente algo diferente aqui e ali, mas sempre volta para o de sempre. Gosto, inclusive nisso, não se discute. E muito menos se lamenta.

Claro, tem inúmeros jeitos e lugares de fazer. Sentado. Em pé, encostado perto da janela. Deitado. De lado. De frente. De costas. Na sala, no quarto, no banheiro, na cozinha, no quintal, dentro do carro. No cinema, no motel, no mato, na rede, em frente a TV, atrás do armário, no cantinho do escritório. Tem quem curta se exibir bastante, abertamente, matando todo mundo de vontade. Tem quem faz escondido. E quem faz discretamente. Tem quem consiga de graça. Tem quem pague caro. E tem quem ganhe de presente, como prova de amor ou carinho. Tem quem faça uma vez por mês, ou por ano, e quem fica anos sem fazer. E tem quem faça sempre, toda hora, todo dia.

Tem quem faça com carinho, devagarinho, sentindo cada momento. Tem quem faça rápido, com voracidade, e aquela vontade quase animalesca.

E na hora de escolher a parceria? Nossa, é uma luta. Sim, porque o jeitinho pode ser de todo jeito, tem pra todo gosto. Comprido, fino, grosso, mais achatado, mais arredondado, maior, menor, bonito, feio, limpo, sujo, cheiroso, sem graça, de boa e de má qualidade. E dá pra achar em qualquer lugar, desde a porta do cinema até a internet. E fica bom com sorvete, com bebida, com fruta, com leite condensado, com creme de morango, com doce de leite, com goiabada, com vinho, com leite gelado. Tem de consistências, cheiros, aparências, temperaturas, gostos e apresentações inúmeras! E, sempre que a gente escolhe só um, fica pensando como seria se tivesse escolhido aquele outro…

Tem quem demore bastante fazendo. Tem quem faça rapidinho, quase sem sentir o gosto. Pra alguns, o que importa é a quantidade. Pra outros, a qualidade. De qualquer jeito, o apelo está em todo lugar, a toda hora. Na TV, no rádio, na internet, na rua, nos outdoors. Quem faz, fica com cara de satisfeito. E, no fundo, quer sempre mais. Porque é bom! Bom e gostoso. Tem até quem diga que é um pecado capital, e quem diga que o exagero pode causar sérios problemas de saúde. Tem cientistas que explicam as milhares de reações químicas que são desencadeadas a partir desse simples ato, e dão aquela sensação imensa de prazer. A indústria criou milhares de produtos para estimular e incrementar o ato. E nós, o que podemos fazer? Sucumbir, claro.

Tem quem seja obscecado, tem quem goste muito, tem quem goste pouco, tem quem quase não lembra do assunto, tem quem faça por vício ou obrigação.

Eu penso nisso quase sempre, todo dia. E pelo menos uma vez por dia tenho que fazer. Me deixa calma, tranquila e com um sorriso de orelha a orelha.

O fato é que só quem gosta de comer chocolate sabe como é duro ser chocoólatra. Mas é bom e gostoso… Demais. Nham.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

A Tempestade


MINISTÉRIO DO BOM SENSO ADVERTE - Este é literalmente um texto de auto-ajuda - estou tentando ajudar a mim mesma. Se servir pra mais alguém, ótimo. Mas não tenho a pretensão de ser dona da verdade de ninguém… Só da minha. E olhe lá. )

Problema é diferente de crise. O problema é um escorregão. A crise é um acidente grave de carro. O problema é perder 10 reais na rua. A crise é ter dívidas enormes com o banco e com o cartão de crédito. O problema é ter uma dor de cabeça. A crise é ter um tumor cerebral. O problema é discutir com o namorado por causa de um atraso. A crise é descobrir que não ama mais o marido. O problema é ficar de saco cheio do chefe de vez em quando. A crise é trabalhar sob constante estresse.

O problema é ter que passar o rodo no quintal depois da chuva. A crise é ver o barco enchendo de água durante a tempestade. Com o problema, você lida. Com a crise, você fica quase impotente. Quase.

Claro, tem gente que adora transformar problemas em crise. E gente também que enfrenta grandes crises tratando-as como pequenos problemas. Mas ninguém está livre nem de um, nem de outro. Uma hora, você vai topar com um dos dois, ou o que é pior - com os dois ao mesmo tempo.

Sobre os problemas, normalmente, não há com o que se preocupar. Eles vão passar, rápido. Para eles, vale aquelas máximas que as pessoas vivem dizendo. Por exemplo, que nenhum problema será relevante depois de um ano ( a maioria, nem depois de um mês ). E também que, se um problema tem solução, não é necessário se preocupar com ele, porque tem solução. E se não tem solução, idem.

Agora, a crise é diferente. Passar por ela é só para os fortes. Ela vai chegando de mansinho, tomando espaços vazios da sua vida, se instalando . Só que, de repente, vira um monstro terrível, pronto pra engolir você. Um nevoeiro que cega, não deixa você ver nenhum horizonte.

Os problemas nos desestabilizam, nos lembram que, como disse Victor Hugo, o riso constante é insano. Agora, as crises… Elas não. Elas vêm pra mudar a nossa vida. E mudam. Pra melhor ou pra pior.

E no meio da cegueira que a crise provoca, a gente precisa aprender a olhar.

Olhar para baixo, pois sempre haverá alguém que passa por uma crise pior do que a nossa… E nobreza mesmo é estender a mão para o outro quando queremos ser carregados no colo.

Olhar para cima, pois sempre há o apoio divino que pode resolver aquilo que ninguém mais pode.

Olhar para o lado, pois as pessoas sempre têm coisas importantes para nos ensinar e podem mostrar o que não conseguimos ver, seja por suas palavras, seja por seus exemplos.

Olhar para dentro, pois lá está a razão e a solução de tudo.

Olhar para fora, pois mesmo em crise, precisamos salvar o tempo do descanso, do sorriso e da beleza que está no mundo.

Olhar para trás, pois o nosso passado pode nos lembrar quem somos e qual é a nossa trajetória de crescimento.

Olhar para frente, pois como os problemas, um dia as crises passarão - mesmo que demore um pouco mais.

Acredito piamente que as crises sempre têm algo a ensinar, algo que só aprenderíamos passando por elas, e embora algumas sejam imprevisíveis… Nossa escolha conta muito. Um crise financeira pode nos ensinar a lidar de maneira mais consciente e generosa com o dinheiro, ou pode nos empobrecer e levar tudo que construímos. Uma crise de saúde pode nos ajudar a valorizar mais a vida, ou pode nos deprimir até beijarmos a morte. Uma crise na família pode nos lembrar da importância de ter alguém por perto, ou pode nos afastar das pessoas. Uma crise no amor pode nos fazer mais maduros, ou pode nos devolver à solidão. Uma crise no trabalho pode nos apontar novos caminhos de realização pessoal e profissional, ou pode nos deixar frustrados e infelizes. Uma crise existencial pode nos responder perguntas que sequer faríamos antes, ou pode nos calar. Não é fácil passar por uma crise. Mas pode ser bom. O sofrimento será proporcional a dureza da nossa cabeça - quanto mais flexíveis e abertos formos, mais rápido ela passa, e menos dor causa.

Minha mãe dizia, quando eu não queria fazer lição de casa - “se tem que ser feito, faça logo; o tempo de brincar e ser feliz é muito mais precioso, e não pode ser perdido.”. No fim, a crise é mesmo uma questão de atitude. Com ela, aprendemos a olhar para muitos lados… Contanto que não fiquemos com os olhos presos nela.

“Mas, tão certo quanto o erro de ser barco a motor
E insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque

AMOR E LIBERDADE




Certa vez fiquei me perguntando:
afinal de contas, pra que eu quero um homem por perto?

Os homens roncam. Ficam fedidos com facilidade. Acham que sabem beber e sempre acabam bebendo demais. Choramingam feito nenéns quando ficam doentes. São egoístas em essência. Usam sapatos enormes e esquisitos e vestem sempre o mesmo tipo de roupa. Compram ingressos errados. Arrumam briga com garçons, manobristas, vendedores de loja por bobagens. São analfabetos no que diz respeito aos sentimentos. Sorriem sarcasticamente quando percebem que não estamos fazendo alguma coisa direito. Ficam desesperados quando precisamos que mantenham a calma.
Tiram sarro de quem sofre de TPM. Cumprimentam uns aos outros se batendo e se xingando. Cortam o cabelo sempre do mesmo jeito. Tratam automóveis como crianças.
Arranham a nossa pele delicada com a barba. Gostam de futebol. Nunca admitem que estão perdidos e não pedem informação. Mesmo que disfarçadamente, olham pra bunda da maioria das mulheres que acham na rua. Não gostam de explicar as coisas e nem de falar de sentimentos. Não ligam quando dizem que vão ligar. Ficam lesos depois do sexo. Avisam que vão gozar. Nunca deixam a tampa do vaso sanitário como encontraram. Frequentemente nos fazem passar vergonha na frente dos amigos.
Implicam com as nossas mães. Acham que sabem de tudo. Deixam toalha molhada jogada pelos cantos. São desorganizados, arrogantes, malvados, insensíveis, brutos, objetivos demais. Por que eu ia querer um homem por perto?

Uma vez, uma moça lésbica me cantou. Eu disse que não estava interessada, mas ela insistiu muito. E o principal argumento que ela usava era que os homens são insuportáveis na convivência. Ela me dizia, “no dia em que você souber como é fácil se envolver com outra mulher… Vai descobrir que um homem não serve pra muita coisa além de sexo animal”. Ela não me convenceu. Mas a pergunta que ela me lançou às vezes me vêm a cabeça. Pra que serve um homem, além de dar trabalho e desgaste?

A vida solitária pode ter suas vantagens. Conviver com os momentos, cheiros, gostos, manias, loucuras, irresponsabilidades da solidão pode ser muito interessante. A liberdade da vida solitária permite que você não dê satisfações do que faz ou sente pra ninguém. Permite que você pinte as paredes da cor que achar melhor. Permite que você faça bagunça ou arrume tudo como quiser. Permite que você passe dias sem comer, e depois peça uma pizza e a devore inteira. Permite que você visite quem quiser, se vista como quiser, paquere quem quiser. Evita todo o desgaste emocional que uma relação traz. Não é fácil acertar o passo com um homem, porque homens e mulheres são diferentes em essência. Quem precisa de um homem?

A vida solitária é segura. Nela, a gente controla, faz as regras e as executa como quer.
Abrir mão dessa liberdade por causa de um homem, só por um momento de loucura.

Uma loucura chamada amor…

Sim, o amor faz a gente gostar de depender de alguém. Faz a gente confiar em alguém pra cuidar da gente. Faz a gente gostar de dar satisfações. Faz a gente curtir ficar brava por conta de um compromisso não cumprido, de um atraso, de um telefonema esquecido. O amor faz a gente gostar de ter alguém por perto pra nos podar, e, em troca, nos dar carinho, paixão, cumplicidade. O amor faz a gente mudar hábitos, torcer o nariz mas aceitar, brigar mas abrir mão, discutir mas fazer as pazes, argumentar e concordar. O amor faz a solidão, a liberdade, o egóismo parecerem ridículos. O amor faz a gente precisar de uma pessoa e achar isso muito bom. Mais do que bom… Achar isso necessário.

Pensando nisso, dá pra descobrir pra que eu quero um homem. Um homem sabe segurar a mão de uma mulher quando andam na rua, mostrando pra todo mundo que ela tem alguém que cuide dela. Um homem sabe ficar com cara de perdido quando uma mulher chora. Ele sabe pegá-la com força e beijar até tirar o fôlego. Sabe defendê-la de pessoas malvadas. Ele sabe abraçar e envolver de uma forma que parece que ninguém pode alcançá-la pra machucar. Sabe dizer “eu te amo” e chamar de gostosa, e com essas palavras estremecê-la toda por dentro. Sabe rir de desenhos animados e brincar de bola com irmãos mais novos. Sabe acariciar cabelos, braços, olhar nos olhos e beijar as bochechas da mulher que ele gosta. Sabe falar palavras obcenas ao telefone enquanto ela está trabalhando. Um homem sabe se sentir o Supermam quando abre um vidro de azeitona. Sabe ensinar uma mulher a dirigir com toda paciência, e ficar bravo quando alguém xinga uma barbeiragem que ela faz. Sabe ocupar tardes livres de domingo com programas bobocas, mas adoráveis. Sabe disfarçar o desagrado de um filme chato no cinema ou de uma tarde de compras num shopping cheio. Sabe ficar ao lado dela num momento difícil. Sabe ficar atrapalhado tentando fazer uma surpresa romântica. Sabe fazer um presente horrível parecer uma graça só pelo jeito que ele foi dado. Um homem sabe fazer uma mulher se sentir a mais bela do mundo com apenas um olhar. Sabe acabar uma discussão angustiante com um beijo. Sabe insistir depois de uma negativa. Sabe explicar a tabela do campeonato brasileiro como se fosse um tratado de História Medieval. Sabe ir buscar no trabalho, na faculdade. Sabe comprar remédios quando ela está doente. Sabe amar. Do jeito dele… Mas sabe.

É por isso que, apesar de parecer logicamente uma loucura… Sempre estamos procurando por um homem, falando deles, apaixonadas e bobas por eles. É por isso que gastamos nossos neurônios, paciência e anos de mocidade tentando nos acertar com os homens. Hoje, eu responderia praquela amiga lésbica que, se relacionar-se com outra mulher é fácil, sim… Fácil demais. O desafio de relacionar-se com um homem é infinitamente mais gostoso e estimulante. E quer saber do que mais? Vale o esforço. É por isso que a minha raiva vai passar… E eu vou descobrir o óbvio: um homem serve pra dar um pouco de graça a essa nossa vida louca. E o resto… A gente acaba resolvendo. Por essas e outras a vida vale a pena… E estamos aqui pra isso.

Abaixo, um trechinho do Renato Russo…

“Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação
De quem deixou a segurança do seu mundo por amor…
Por amor…”

sábado, 5 de julho de 2008

Ser homem ou mulher




A anatomia é o destino? Talvez, mas há lugares em que a mulher pode escolher ser homem

NOS ANOS 1960, "descobrimos" que a identidade de cada gênero, masculino, feminino ou outro (há outros, sim), era construída e imposta pela cultura em que vivíamos. Ou seja, nosso sentimento íntimo de ser homem ou mulher dependia dos valores que nos eram transmitidos: "alguém" nos oferecera bonecas ou soldados e nos propusera futebol ou costura.

A descoberta encorajou a militância igualitária, os papéis sociais de homens e mulheres se aproximaram e, enfim, tornou-se possível sentir-se homem e cuidar das crianças ou fazer bordado, e sentir-se mulher e pensar na vida profissional ou entrar no exército. Isso, sem que ninguém se atormentasse com dúvidas excessivas sobre sua identidade viril ou feminina.
Nas últimas décadas, houve um refluxo: hoje, sentir-se homem ou mulher nos parece ser, antes de mais nada, um efeito da diferença biológica entre os sexos.

Talvez seja por causa das próprias mudanças que mencionei acima: as diferenças culturais entre gêneros se tornaram menos relevantes e procuramos outras, mais "sólidas".

Mas muitos dirão que aconteceu o seguinte: os avanços da ciência mostraram que, na constituição das identidades de gênero, hormônios, genes etc. contam mais do que as palavras e os comportamentos. Ou seja, pouco importa que eu vista você de renda ou de farda, você será ou se sentirá homem ou mulher como mandam a química e a física de seu corpo.

Paradoxalmente, essa posição, que pretende ser materialista, parece apostar na separação de corpo e mente, como se um mundo "real" de genes e hormônios existisse separado do da fala e dos atos da gente (que, cá entre nós, não é menos real). Acho mais provável que haja um mundo só, em que interagem fenômenos descritos de jeitos diversos, mas que pertencem a uma única realidade, a nossa, feita de descargas hormonais, obrigações indumentárias e comportamentais, genes, xingões, chapoletadas, neurotransmissores, conselhos, amores e carícias.

Além disso, é bom não esquecer que a primazia atual das explicações "anatômicas" é, por sua vez, um fato cultural. Ela é a evolução esperada da cultura ocidental moderna, que promove, dessa forma, sua melhor idéia: a de uma humanidade comum a todos, além das diferenças culturais. Por exemplo, para justificar a existência de direitos humanos universais, nada melhor do que uma definição da espécie a partir da biologia comum e não das culturas, que divergem.

Seja como for, o clima de hoje sugere que a anatomia seja o destino. Nesse quadro, é bom meditar sobre um extraordinário artigo de Dan Bilefsky, no "New York Times" de 25 de junho (em www.nytimes.com, procurar "Woman as Family Man"). Bilefsky viajou pelas montanhas do norte da Albânia, onde sobrevivem os restos de uma cultura tradicional, regida por um cânon rigoroso que, entre outras coisas, prescreve a vendeta entre famílias, de geração em geração: vocês matam um dos nossos, nós mataremos um dos seus -sendo que só podem matar e ser mortos os homens das respectivas famílias. "Abril Despedaçado", de Ismail Kadaré (Companhia das Letras), dá uma boa idéia do clima local. Quem não leu pode assistir ao filme homônimo, de Walter Salles, que transpôs o romance de Kadaré para o norte do Brasil no começo do século 20.

Pergunta: o que acontecia, numa cultura como essa, quando só sobravam as mulheres de uma família? Pois é, no caso, encorajada pelo fato de que, nessa cultura, ser mulher era especialmente chato, uma virgem, livremente, podia decidir ser homem. Ela cortava o cabelo, vestia-se de homem, carregava faca e arma, sentava-se com os homens e com eles rezava na mesquita, matava e era morta e tornava-se patriarca da família.

Belefsky encontrou e fotografou várias mulheres-homens, na faixa dos 80 anos, mulheres que, 60 anos atrás, virgens, renunciaram à vida sexual e decidiram ser homens. E, de fato, sentiram-se e foram homens. Na verdade, ainda são: no pleno exercício de seu patriarcado.

O que assombra nessa história, aliás, não é só a construção cultural do gênero, mas a incrível liberdade que se revelava possível numa sociedade estritamente tradicional (a gente pensa, em geral, que a liberdade de escolha seja coisa exclusivamente nossa).

Prisioneira da Paixão



A paixão é um pássaro peregrino
que voa com as asas da emoção
sentimento desprovido de razão
rumando à procura de um destino.

Semeando saudade e desatino
destroçando o coração e a mente
e por vezes dominando a gente
com destreza e força desmedida.

E se buscamos consolo para a lida
ela sempre impõe sua vontade
com capricho de quem sem piedade
domina e acorrenta nossa vida.

E S S Ê N C I A


Viajar no tempo interior,
sobrepairar nas bodas do autoconhecimento,
abrir as portas e as janelas
incognoscíveis da alma,
semear a cintilação suprema
que guia e aquece...
Exercitar a expansão da consciência,
evolando-se e cavalgando
nos lépidos corcéis brancos
que se soltaram das bigas ancestrais
e rumam ao mirante dourado
do paço prometido...
Trabalhar!...

Aquecer-se ante lareiras
e plenilúnios,
bailar aos olhos de Orfeu,
na clave de sol...
Dedilhar o diáfano sitar
das castas entre -noites,
reinaugurando-se nos cânticos
e no lume do feitio,
buscando o ponto,
contemplando os trancelins
e palmas borbulhantes da flora viva.

Ao fogo místico da perfeição
e dispostos em harmonia,
nervuras, limbos e fibras vibram
e sintetizam o licor-dádiva
dos deuses do astral.

Colher a estrela
[que completa o corpo
e garante a plenitude da alma],
escandir a álgebra luminosa da mente
e plantar a vera cruz no jardim da paz,
comungando força e luz
em correntes arcanas,
pastoreando o vento, a terra, o mar...
Bebendo do alvo néctar da fé
que floresce no semblante da lua nova
e no olho da águia indômita,
entre ícones e pentalfas...

Aguçar a visão, deseclipsando tudo,
renovando estaticamente a percepção,
sublimando os sentidos
no poder clarividente dos mistérios
e na cálida pureza das vibrações...
Mirar, radiar... Fecundar os infinitos dons
e escalar as torres de prata
do tempo cósmico...

Atravessar horizontes,
erguendo auroras,
navegando a essência,
enxotando tédios, ânsias e desamores,
transcendendo,
transluzindo,
transbordando,
transitando
no brilho fatal dos movimentos...

LAVADA LOUCURA







Suplico que os céus lavem as minhas indagações que calaram o sorriso, andante que sou que lavem os campos, as estradas, os trilhos, as ruas, as calçadas, as vitrines que espelham embaçado o personagem que tem a vontade, a cobiça de ser o que não pode ser. Ou foi? Ou não mais será?

Reveste-me líquida, uma enxurrada sem destino... Um véu em cachoeira lapidando-me, em pedra... Sem rosto, sem carranca. Não quero perfumes e nem bolhas de sabão, nem sais a descansar as mágoas de um pulmão já cheio de respirar a poeira dos hipócritas.

Quero água, chuveiro, chuva, até cair todos os fios do cabelo da cabeça e virar a Louca sã e salva deste paraíso infernal do faz-de-conta, desenho animado, claquetes de inúmeros atos... Torre de Babel encantada, requentada.

Devora-me pastosa sem o betume, alagando meus pés de verniz coalhado. Embriaga-me deste charco em tempestade. Que seja breve o parir dos negrumes dejetos dos anos, vômitos esverdeados guardados, mofos... Evaporando todas as podridões engolidas, degustadas, cuspindo os demônios... fumaça dos malvados seres de plantão.

Somente uma gota eterna, virgem, na possível rosa.

SENTIMENTO DE MUNDO



HÁ UM POUCO DE NOITE, EM CADA PARTE HÁ UM POUCO DE AMOR, EM CADA PRANTO HÁ UM POUCO DE COR, EM CADA TEMPO HÁ UM POUCO DE SORTE, EM CADA DESTINO HÁ UM POUCO DE ESCÁRNIO, EM CADA PENSAMENTO HÁ UM POUCO DE MAR, E UM OUTRO TANTO DE VENTO... HÁ, NO MUNDO LÁ DE FORA, UM POUCO DO MUNDO AQUI DE DENTRO...

Amor Cadáver





Existe um cadáver
Entre nós dois
Que um dia
Foi chamado amor...

Foi ardente um dia...
Pulsava em vidas!
Sempre voraz!
Sempre em cor...

Era luz da madrugada!
Entorpecido de vinho
Encantava a cidade
E todos os olhares...

Hoje restam apenas flores...
Que lhe enfeitam gélido...
Amor enterrado!
Nessa estranha vida...