quinta-feira, 10 de julho de 2008

AMOR E LIBERDADE




Certa vez fiquei me perguntando:
afinal de contas, pra que eu quero um homem por perto?

Os homens roncam. Ficam fedidos com facilidade. Acham que sabem beber e sempre acabam bebendo demais. Choramingam feito nenéns quando ficam doentes. São egoístas em essência. Usam sapatos enormes e esquisitos e vestem sempre o mesmo tipo de roupa. Compram ingressos errados. Arrumam briga com garçons, manobristas, vendedores de loja por bobagens. São analfabetos no que diz respeito aos sentimentos. Sorriem sarcasticamente quando percebem que não estamos fazendo alguma coisa direito. Ficam desesperados quando precisamos que mantenham a calma.
Tiram sarro de quem sofre de TPM. Cumprimentam uns aos outros se batendo e se xingando. Cortam o cabelo sempre do mesmo jeito. Tratam automóveis como crianças.
Arranham a nossa pele delicada com a barba. Gostam de futebol. Nunca admitem que estão perdidos e não pedem informação. Mesmo que disfarçadamente, olham pra bunda da maioria das mulheres que acham na rua. Não gostam de explicar as coisas e nem de falar de sentimentos. Não ligam quando dizem que vão ligar. Ficam lesos depois do sexo. Avisam que vão gozar. Nunca deixam a tampa do vaso sanitário como encontraram. Frequentemente nos fazem passar vergonha na frente dos amigos.
Implicam com as nossas mães. Acham que sabem de tudo. Deixam toalha molhada jogada pelos cantos. São desorganizados, arrogantes, malvados, insensíveis, brutos, objetivos demais. Por que eu ia querer um homem por perto?

Uma vez, uma moça lésbica me cantou. Eu disse que não estava interessada, mas ela insistiu muito. E o principal argumento que ela usava era que os homens são insuportáveis na convivência. Ela me dizia, “no dia em que você souber como é fácil se envolver com outra mulher… Vai descobrir que um homem não serve pra muita coisa além de sexo animal”. Ela não me convenceu. Mas a pergunta que ela me lançou às vezes me vêm a cabeça. Pra que serve um homem, além de dar trabalho e desgaste?

A vida solitária pode ter suas vantagens. Conviver com os momentos, cheiros, gostos, manias, loucuras, irresponsabilidades da solidão pode ser muito interessante. A liberdade da vida solitária permite que você não dê satisfações do que faz ou sente pra ninguém. Permite que você pinte as paredes da cor que achar melhor. Permite que você faça bagunça ou arrume tudo como quiser. Permite que você passe dias sem comer, e depois peça uma pizza e a devore inteira. Permite que você visite quem quiser, se vista como quiser, paquere quem quiser. Evita todo o desgaste emocional que uma relação traz. Não é fácil acertar o passo com um homem, porque homens e mulheres são diferentes em essência. Quem precisa de um homem?

A vida solitária é segura. Nela, a gente controla, faz as regras e as executa como quer.
Abrir mão dessa liberdade por causa de um homem, só por um momento de loucura.

Uma loucura chamada amor…

Sim, o amor faz a gente gostar de depender de alguém. Faz a gente confiar em alguém pra cuidar da gente. Faz a gente gostar de dar satisfações. Faz a gente curtir ficar brava por conta de um compromisso não cumprido, de um atraso, de um telefonema esquecido. O amor faz a gente gostar de ter alguém por perto pra nos podar, e, em troca, nos dar carinho, paixão, cumplicidade. O amor faz a gente mudar hábitos, torcer o nariz mas aceitar, brigar mas abrir mão, discutir mas fazer as pazes, argumentar e concordar. O amor faz a solidão, a liberdade, o egóismo parecerem ridículos. O amor faz a gente precisar de uma pessoa e achar isso muito bom. Mais do que bom… Achar isso necessário.

Pensando nisso, dá pra descobrir pra que eu quero um homem. Um homem sabe segurar a mão de uma mulher quando andam na rua, mostrando pra todo mundo que ela tem alguém que cuide dela. Um homem sabe ficar com cara de perdido quando uma mulher chora. Ele sabe pegá-la com força e beijar até tirar o fôlego. Sabe defendê-la de pessoas malvadas. Ele sabe abraçar e envolver de uma forma que parece que ninguém pode alcançá-la pra machucar. Sabe dizer “eu te amo” e chamar de gostosa, e com essas palavras estremecê-la toda por dentro. Sabe rir de desenhos animados e brincar de bola com irmãos mais novos. Sabe acariciar cabelos, braços, olhar nos olhos e beijar as bochechas da mulher que ele gosta. Sabe falar palavras obcenas ao telefone enquanto ela está trabalhando. Um homem sabe se sentir o Supermam quando abre um vidro de azeitona. Sabe ensinar uma mulher a dirigir com toda paciência, e ficar bravo quando alguém xinga uma barbeiragem que ela faz. Sabe ocupar tardes livres de domingo com programas bobocas, mas adoráveis. Sabe disfarçar o desagrado de um filme chato no cinema ou de uma tarde de compras num shopping cheio. Sabe ficar ao lado dela num momento difícil. Sabe ficar atrapalhado tentando fazer uma surpresa romântica. Sabe fazer um presente horrível parecer uma graça só pelo jeito que ele foi dado. Um homem sabe fazer uma mulher se sentir a mais bela do mundo com apenas um olhar. Sabe acabar uma discussão angustiante com um beijo. Sabe insistir depois de uma negativa. Sabe explicar a tabela do campeonato brasileiro como se fosse um tratado de História Medieval. Sabe ir buscar no trabalho, na faculdade. Sabe comprar remédios quando ela está doente. Sabe amar. Do jeito dele… Mas sabe.

É por isso que, apesar de parecer logicamente uma loucura… Sempre estamos procurando por um homem, falando deles, apaixonadas e bobas por eles. É por isso que gastamos nossos neurônios, paciência e anos de mocidade tentando nos acertar com os homens. Hoje, eu responderia praquela amiga lésbica que, se relacionar-se com outra mulher é fácil, sim… Fácil demais. O desafio de relacionar-se com um homem é infinitamente mais gostoso e estimulante. E quer saber do que mais? Vale o esforço. É por isso que a minha raiva vai passar… E eu vou descobrir o óbvio: um homem serve pra dar um pouco de graça a essa nossa vida louca. E o resto… A gente acaba resolvendo. Por essas e outras a vida vale a pena… E estamos aqui pra isso.

Abaixo, um trechinho do Renato Russo…

“Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação
De quem deixou a segurança do seu mundo por amor…
Por amor…”

Um comentário:

Espada disse...

Mulher, oh bicho complicado de se entender, mas sem elas nós homens não sabemos viver. O homem e a mulher são duas metades da mesma laranja, que lutam por vezes uma vida inteira para descobrir a sua metade, nalguns casos nunca a conseguindo encontrar, ou então quando a encontram já foi tarde demais... Homem ainda é bicho do mato, tem medo de demonstrar o seu amor por uma mulher, e quando isso acontece acaba perdendo-a... Mas mulher tem de por vezes ter paciencia de santa para ensinar o homem a se comportar... Mas neste mundo, ainda tem muito homem romantico, que não bebe, não ronca, que nunca sabem quem está na frente do campeonato de futebol e que adoram fazer tudo na companhia da mulher que amam...